Interacionismo Simbólico
O interacionismo simbólico baseia-se, em última análise, em três premissas.
A primeira estabelece que os seres humanos agem em relação ao mundo fundamentando-se nos significados que este lhes oferece.
Tais elementos abrangem tudo o que é possível à pessoa observar em seu universo — objetos físicos, como árvores ou cadeiras; outras pessoas, como mães ou balconistas de loja; categorias de seres humanos, como amigos ou inimigos; instituições, como escolas ou o governo; ideais norteadores, como independência individual ou honestidade; atividades alheias, como ordens ou solicitações de outrem —, além das situações com que o indivíduo se depara em seu dia a dia.
A segunda premissa consiste no fato de os significados de tais elementos serem provenientes da ou provocados pela interação social que se mantém com as demais pessoas.
A terceira premissa reza que tais significados são manipulados por um processo interpretativo — e por este modificados — utilizado pela pessoa ao se relacionar com os elementos com que entra em contato.
O interacionismo simbólico considera que o significado é produzido a partir do processo de interação humana. Para um indivíduo, o significado de um elemento nasce da maneira como outras pessoas agem em relação a si no tocante ao elemento.
Desta forma, considera-se que os significados são produtos sociais, criações elaboradas em e através das atividades humanas determinantes em seu processo interativo.
A utilização de significados pelo agente ocorre através de um processo de interpretação. Este possui duas fases distintas.
Na primeira, o agente determina a si mesmo os elementos com que se relaciona; necessita especificar para si próprio os elementos possuidores de significado. A execução de tais designações constitui um processo social interiorizado, no qual o agente interage consigo mesmo.
Esta operação equivale a algo bem diferente de uma combinação de fatores psicológicos; trata-se de uma situação em que o indivíduo empenha-se em um processo comunicativo consigo próprio.
Na segunda, em virtude desse processo de autocomunicação, interpretar torna-se uma questão de manobra de significados. O agente seleciona, modera, susta, reagrupa e transforma os significados sob o ponto de vista da situação em que se encontra e da direção de seus atos.
Por conseguinte, a interpretação não deveria ser considerada como uma mera aplicação automática de significados existentes, mas sim como um processo formativo em que os significados são utilizados e trabalhados para orientar e formar as ações.
Deve-se levar sempre em consideração que os significados desempenham seu papel na ação por intermédio de um processo de autointeração. Os significados são flexivelmente manobrados pelo agente no decurso da formação de seus atos.
BLUMER, Herbert [1969]. A natureza do interacionismo simbólico. In: MORTENSEN, David (org.). Teoria da comunicação: textos básicos. São Paulo: Mosaico, 1980.
Interação Social
A vida em grupo pressupõe, necessariamente, uma interação entre seus membros; ou, em outras palavras, uma sociedade é constituída de indivíduos que interagem uns com os outros. Suas atividades ocorrem predominantemente umas em reação às outras, ou umas em relação às outras.
Muito embora este fato seja reconhecido quase universalmente nas definições de sociedade humana, a interação social é normalmente aceita como ponto pacífico e encarada como se não possuísse qualquer importância em si.
Em muitas sistematizações sociológicas e psicológicas, essa atitude é patente — consideram a interação social simplesmente um meio através do qual as determinantes do comportamento passam a produzir comportamento.
Desta maneira, a sistematização sociológica típica atribui o comportamento a fatores como posição social, prescrições culturais, normas, valores, sanções, necessidades de papel e exigências do sistema social; as explicações relativas a tais fatores bastam-se a si mesmas, sem levar em conta a interação social que seu desempenho necessariamente pressupõe.
De modo análogo, na sistematização psicológica típica, fatores como motivo, atitudes, complexos ocultos, elementos de organização psicológica e processos psicológicos são utilizados para descrever o comportamento sem a mínima necessidade de se importar com a interação social.
Dos fatores causativos passa-se para o comportamento que supostamente propiciam, com a interação social, tornando-se mero meio que as determinantes sociológicas atravessam rumo à produção de manifestações específicas de comportamento.
O interacionismo simbólico, por sua vez, considera que a interação social equivale a um processo interativo entre agentes, e não entre fatores a eles atribuídos.
Seu valor reside no fato de constituir um processo que forma o comportamento, ao invés de equivaler simplesmente a um meio ou contexto para a expressão ou liberação da conduta humana.
Em outras palavras, as pessoas, ao interagirem umas com as outras, devem considerar o que cada uma faz ou está para fazer; são obrigadas a dirigir seu próprio comportamento ou manipular as situações em função de tais observações.
Assim, as atividades de outrem constituem fatores positivos na formação de sua própria conduta; face às ações de outras pessoas, pode-se abandonar intenções ou objetivos, ou então examiná-los, moderá-los ou sustá-los, intensificá-los ou substituí-los.
Às ações de outrem cabe determinar o que se planeja fazer, além de poder se opor ou impedir tais projetos, requerer sua revisão ou exigir outra série diferente de projetos. De uma forma ou de outra, deve-se adaptar a própria linha de atividade aos atos do outro.
O sociólogo estadunidense George Herbert Mead identifica duas formas ou níveis de interação social na sociedade humana. Refere-se aos mesmos como “a conversação dos gestos” e “o uso de símbolos significantes”, que aqui serão denominados “interação não simbólica” e “interação simbólica”.
A interação não simbólica ocorre quando se reage diretamente à ação de outra pessoa sem interpretá-la; a interação simbólica refere-se à interpretação do ato. A interação não simbólica pode ser observada mais facilmente em reações sob a forma de reflexos, como no caso de um boxeador que levanta automaticamente o braço para se esquivar de um golpe.
Todavia, se o boxeador identificasse refletidamente o golpe prestes a ser desferido por seu oponente como uma finta visando a confundi-lo, estaria empenhado em uma interação simbólica. Neste caso, esforçar-se-ia no sentido de certificar-se do significado do golpe, isto é, o que quer dizer, de acordo com os desígnios de seu oponente.
Em seu processo associativo, os seres humanos dedicam-se plenamente à interação não simbólica, à medida que reagem imediata e irrefletidamente aos movimentos corporais, expressões e tons de voz uns dos outros, embora seu modo de interação típico esteja no nível simbólico, à medida que procuram compreender mutuamente o significado de suas ações.
O gesto consiste em qualquer parte ou aspecto de uma ação contínua que traz consigo o ato global de que faz parte. Por exemplo, um brandir de punhos representa indício de um possível ataque, declaração de guerra por algum país ou marca da posição e linha de ação desta nação.
Elementos como solicitações, pedidos, ordens, pistas e declarações equivalem a gestos que transmitem aos que os reconhecem uma ideia da intenção e desígnio do ato a ser realizado pelo indivíduo que os expõe.
A pessoa que reage organiza sua resposta conforme o significado que os gestos lhe transmitem; o expositor dos gestos apresenta-os como indicações ou signos daquilo que tenciona fazer, assim como do que deseja que o reagente faça ou compreenda. Assim, o gesto possui significado tanto para quem o faz como para quem é endereçado.
Quando possui o mesmo significado para ambos, as duas partes entendem-se mutuamente. Se porventura houver confusão ou mal entendidos, a comunicação não se efetiva, impede-se a interação e bloqueia-se a feitura do ato conjunto.
A coexistência grupal humana representa, portanto, um complexo processo de definição recíproca sobre como proceder e de interpretação das mesmas; através desse sistema os seres humanos vêm a adaptar suas atividades uns aos outros e a formar sua própria conduta pessoal.
BLUMER, Herbert [1969]. A natureza do interacionismo simbólico. In: MORTENSEN, David (org.). Teoria da comunicação: textos básicos. São Paulo: Mosaico, 1980.