Acumulação Flexível do Capital
O toyotismo, como via japonesa de expansão e consolidação do capitalismo monopolista industrial, é uma forma de organização do trabalho que nasce na Toyota, no Japão pós-45, e que, muito rapidamente, se propaga para as grandes companhias daquele país.
Ele se diferencia do fordismo basicamente nas seguintes características:
1. É uma produção muito vinculada à demanda, visando atender às exigências mais individualizadas do mercado consumidor, diferenciando-se da produção em série e de massa do taylorismo/fordismo; por isso sua produção é variada e bastante heterogênea, ao contrário da homogeneidade fordista.
2. Fundamenta-se no trabalho operário em equipe, com multivariedade de funções, rompendo com o caráter parcelar típico do fordismo.
3. A produção se estrutura num processo produtivo flexível, que possibilita ao operário operar simultaneamente várias máquinas, alterando-se a relação pessoa/máquina na qual se baseava o taylorismo/fordismo.
4. Tem como princípio o melhor aproveitamento possível do tempo de produção.
5. Funciona segundo o sistema de placas ou senhas de comando para reposição de peças e de estoque; os estoques são mínimos quando comparados ao fordismo.
6. As empresas do complexo produtivo toyotista, inclusive as terceirizadas, têm uma estrutura horizontalizada, ao contrário da verticalidade fordista — enquanto na fábrica fordista a maior parte da produção era realizada no seu interior, a fábrica toyotista é responsável por cerca de um quarto da produção, tendência que vem se intensificando ainda mais.
7. Organiza os chamados "círculos de controle de qualidade", constituindo grupos de trabalhadores que são instigados pelo capital a discutir seu trabalho e desempenho, com vistas a melhorar a produtividade das empresas, convertendo-se num importante instrumento para o capital apropriar-se da perícia intelectual e cognitiva do trabalho, que o fordismo desprezava.
8. Estabelece o “emprego vitalício” para uma parcela específica dos trabalhadores das grandes empresas, além de ganhos salariais intimamente vinculados ao aumento da produtividade.
A partir do momento em que esse receituário se amplia para o conjunto das empresas japonesas, seu resultado foi a retomada de um patamar de produção que levou o Japão, num curtíssimo período, a atingir padrões de produtividade e índices de acumulação capitalista altíssimos.
A transferência das responsabilidades de elaboração e controle da qualidade da produção, anteriormente realizadas pela gerência e agora interiorizadas na própria ação dos trabalhadores, e a racionalização do processo produtivo, dotada de forte disciplinamento da força de trabalho e impulsionada pela necessidade de implantar formas de capital e de trabalho intensivo, caracterizaram a via toyotista de desenvolvimento do capitalismo monopolista no Japão.
A expansão do trabalho em tempo parcial, assim como as formas pelas quais o capital se utiliza da divisão sexual do trabalho e do crescimento dos trabalhadores imigrantes, executando trabalhos desqualificados e frequentemente ilegais, constituem claros exemplos da enorme tendência à intensificação e exploração da força de trabalho no universo do toyotismo.
Este se estrutura preservando dentro das empresas matrizes um número reduzido de trabalhadores mais qualificados, multifuncionais e envolvidos com o seu ideário, bem como ampliando o conjunto flutuante e flexível de trabalhadores com o aumento das horas extras, da terceirização no interior e fora das empresas, da contratação de trabalhadores temporários etc., opções estas que são diferenciadas em função das condições do mercado em que se inserem. Quanto mais o trabalho se distancia das empresas principais, maior tende a ser a sua precarização.
A vigência do neoliberalismo, ou de políticas sob sua influência, propiciou condições em grande medida favoráveis à adaptação diferenciada de elementos do toyotismo no Ocidente.
Sendo o processo de reestruturação produtiva do capital a base material do projeto ideopolítico neoliberal, a estrutura sob a qual se erige o ideário e a pragmática neoliberal, não foi difícil perceber que desde fins dos anos 70 e início dos 80 o mundo capitalista ocidental começou a desenvolver técnicas similares ao toyotismo.
Essa assimilação do toyotismo vem sendo realizada por quase todas as grandes empresas, a princípio no ramo automobilístico e, posteriormente, propagando-se também para o setor industrial em geral e para vários ramos do setor de serviços, tanto nos países centrais quanto nos de industrialização intermediária.
Algumas das repercussões neoliberais dessas mudanças no processo produtivo que tiveram resultados imediatos no mundo do trabalho foram: a desregulamentação dos direitos trabalhistas; o aumento da fragmentação no interior da classe trabalhadora; a precarização e terceirização da força humana que trabalha; e a destruição do sindicalismo de classe e sua conversão num sindicalismo de parceria.
ANTUNES, Ricardo [1999]. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo, 2009.
Enem 2014b - 13
a) adota estruturas de produção horizontalizadas, privilegiando as terceirizações.
b) requer trabalhadores qualificados, polivalentes e aptos para as oscilações da demanda.
c) procede à produção em pequena escala, mantendo os estoques baixos e a demanda crescente.
d) decompõe a produção em tarefas fragmentadas e repetitivas, complementares na construção do produto.
e) outorga aos trabalhadores a extensão da jornada de trabalho para que eles definam o ritmo de execução de suas tarefas.
d) decompõe a produção em tarefas fragmentadas e repetitivas, complementares na construção do produto.
Enem 2013a - 22
a) as estruturas burocráticas sejam transferidas da empresa para o espaço doméstico.
b) as tecnologias de informação sejam usadas para democratizar as relações laborais.
c) os procedimentos de terceirização sejam aprimorados pela qualificação profissional.
d) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho.
e) as organizações sindicais sejam fortalecidas com a valorização da especialização funcional.
d) os mecanismos de controle sejam deslocados dos processos para os resultados do trabalho.
Enem 2011a - 26
a) pelo ingresso tardio das mulheres no mercado de trabalho no setor industrial.
b) pela manutenção de estoques de larga escala em função da alta produtividade.
c) pelo aumento na oferta de vagas para trabalhadores especializados em funções repetitivas.
d) pelo uso intensivo do trabalho manual para desenvolver produtos autênticos e personalizados.
e) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalhadores no processo de qualificação laboral.
e) pela participação ativa das empresas e dos próprios trabalhadores no processo de qualificação laboral.