Etnocentrismo
A nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos padrões aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento desviante.
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado da operação de uma determinada cultura.
Mesmo o exercício de atividades consideradas como parte da fisiologia humana podem refletir diferenças de cultura.
Tomemos, por exemplo, o riso. Rir é uma propriedade do ser humano e dos primatas superiores. O riso se expressa, primariamente, através da contração de determinados músculos da face e da emissão de um determinado tipo de som vocal.
O riso exprime quase sempre um estado de alegria. Todas as pessoas riem, mas o fazem de maneira diferente por motivos diversos.
A primeira vez que vimos um Kaapor rir foi um motivo de susto. A emissão sonora, profundamente alta, assemelhava-se a imaginários gritos de guerra e a expressão facial em nada se parecia com aquilo que estávamos acostumados a ver. Tal fato se explica porque cada cultura tem um determinado padrão para este fim.
Os alunos de uma sala de aula, por exemplo, estão convencidos de que cada um deles tem um modo particular de rir, mas um observador estranho a nossa cultura comentará que todos eles riem mais ou menos de uma mesma forma.
Na verdade, as diferenças percebidas pelos estudantes, e não pelo observador de fora, são variações de um mesmo padrão cultural. Por isto é que acreditamos que a maioria dos japoneses riem de uma mesma maneira.
Temos a certeza de que os japoneses também estão convencidos que o riso varia de indivíduo para indivíduo dentro do Japão e que a maioria dos brasileiros riem de modo igual.
O fato de que o ser humano vê o mundo através de sua cultura tem como consequência a propensão em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural. Tal tendência, denominada etnocentrismo, é responsável em seus casos extremos pela ocorrência de numerosos conflitos sociais.
O etnocentrismo, de fato, é um fenômeno universal. É comum a crença de que a própria sociedade é o centro da humanidade, ou mesmo a sua única expressão.
Tal crença contém o germe do preconceito, do estereótipo, do estigma, e, frequentemente, é utilizada para justificar a violência praticada contra os outros. A dicotomia "nós e os outros" expressa em níveis diferentes essa tendência.
A projeção desta dicotomia para o plano extragrupal resulta nas manifestações nacionalistas ou formas mais extremadas de xenofobia.
O ponto fundamental de referência não é a humanidade, mas o grupo. Daí a reação, ou pelo menos a estranheza, em relação aos estrangeiros. A chegada de um estranho em determinadas comunidades pode ser considerada como a quebra da ordem social ou até sobrenatural.
Comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas dos padrões culturais de grupos sociais diferentes. Práticas de outros sistemas culturais são catalogadas como absurdas, deprimentes e imorais, como no caso da intolerância contra religiões de matriz africana.
A antropologia, entretanto, nos ensina que todo sistema cultural tem a sua própria lógica e não passa de um ato de etnocentrismo tentar transferir a lógica de um sistema para outro. A coerência de um hábito cultural somente pode ser analisada a partir do sistema a que pertence.
LARAIA, Roque de Barros [1986]. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.
Enem 2019b - 59
a) reconhecimento mútuo entre povos.
b) comportamento hostil em zonas de conflito.
c) etnocentrismo recorrente entre populações.
d) constatação de agressividade no estado de natureza.
e) transmutação de valores no contexto da modernidade.
c) etnocentrismo recorrente entre populações.
Enem 2013a - 24
a) A história e a natureza.
b) O exotismo e as culturas.
c) O comércio e o ambiente.
d) A diversidade e a política.
e) A sociedade e a economia.
b) O exotismo e as culturas.
Enem 2015a - 20
a) prática da diplomacia.
b) exercício da alteridade.
c) expansão da democracia.
d) universalização do progresso.
e) conquista da autodeterminação.
b) exercício da alteridade.