Democracia Comunicativa
Concepções de democracia baseadas no interesse consideram a democracia principalmente como processo de expressão de preferências e demandas e de registro das mesmas por meio do voto.
O objetivo do processo decisório democrático é decidir que líderes, regras e políticas melhor servirão ao maior número de pessoas num sistema onde cada pessoa define seu próprio interesse.
No processo democrático de tomada de decisão, indivíduos e grupos de interesse votam e determinam políticas que melhor servirão a seus próprios interesses segundo sua percepção, incluindo em seus cálculos a noção de que outros componentes da sociedade farão o mesmo.
Sendo assim, decisões democráticas são o resultado da realização bem-sucedida de ideias e coalizões por votos de interesse próprio.
No entanto, críticos do modelo de democracia baseado nos interesses contestam o que percebem como sua irracionalidade e a compreensão privatizada do processo político.
Cada cidadão pode determinar racionalmente a melhor maneira de atingir seus próprios fins privados, mas o resultado agregado em si não é fruto de um processo de raciocínio próprio e não tem, necessariamente, racionalidade.
O modelo de democracia deliberativa, ao contrário, concebe a democracia como processo que cria um público, isto é, cidadãos unindo-se para tratar de objetivos, ideais, ações e problemas coletivos.
Os processos democráticos são orientados em torno da discussão do bem público, ao invés da competição pelo bem privado de cada um.
Em vez de raciocinar do ponto de vista do maximizador da utilidade privada, os cidadãos transformam, por meio da deliberação pública, suas preferências, de acordo com fins de ordem pública, raciocinando juntos sobre a natureza desses fins e sobre os melhores meios de atingi-los.
Na experiência atual, expressões de democracia deliberativa aparecem mais frequentemente nas estruturas decisórias de associações voluntárias.
As democracias contemporâneas desencorajam a deliberação e encorajam uma orientação consumidor-privatizada em relação à política por parte dos cidadãos.
Mas os processos de formulação de políticas públicas em audiências públicas, por exemplo, também exibem feições do modelo deliberativo.
Uma das principais virtudes deste modelo é a de promover uma concepção da predominância da razão sobre o poder econômico na política.
As políticas devem ser adotadas não por causa da vitória dos interesses mais poderosos, mas porque os cidadãos ou seus representantes as justificam, após ter ouvido e criticado os motivos apresentados.
O objetivo da deliberação é atingir o consenso: mesmo se não for possível e se os participantes tiverem de recorrer à votação, o resultado será um julgamento coletivo e não uma agregação de preferências privadas.
No entanto, o ideal deliberativo tende a supor que, quando é eliminada a influência do poder econômico, a maneira de falar e de compreender será idêntica para todos; mas isso se verificará apenas se lidarmos também com a questão das diferenças de cultura e posição social.
O ideal da denominada "democracia comunicativa" vai além, é mais inclusivo do que o da democracia deliberativa, porque reconhece que, quando o diálogo político visa a solucionar problemas coletivos, este requer uma pluralidade de perspectivas, estilos de discurso e maneiras de expressar a particularidade de situações sociais, bem como a aplicabilidade de princípios.
YOUNG, Iris Marion. Comunicação e o outro: além da democracia deliberativa. In: SOUZA, Jessé (org.). Democracia hoje: novos desafios para a teoria democrática na contemporaneidade. Brasília: UnB, 2001.
Enem 2015b - 22
a) alvo objetivo alcançável por cada cidadão, como agente racional autônomo.
b) critério acima dos indivíduos, de acordo com o qual podemos julgar quais opiniões são as melhores.
c) construção da atividade racional de comunicação entre as pessoas, cujo resultado é um consenso.
d) ideal que se encontra mais desenvolvido nos espíritos elevados, a quem cabe a tarefa de convencer os outros.
e) produto da razão, que todo sujeito traz latente desde o nascimento, mas que só se firma no processo educativo.
c) construção da atividade racional de comunicação entre as pessoas, cujo resultado é um consenso.
Enem 2016a - 10
a) a decisão da maioria e a uniformização de direitos.
b) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias.
c) a organização de eleições e o movimento anarquista.
d) a fragmentação da participação e a desobediência civil.
e) a imposição de resistência e o monitoramento da liberdade.
b) a obtenção do consenso e a mobilização das minorias.
Enem 2012a - 11
a) a secessão, pela qual a minoria discriminada obteria a igualdade de direitos na condição da sua concentração espacial, num tipo de independência nacional.
b) a autonomia dos indivíduos que, ao chegarem à vida adulta, tenham condições de se libertar das tradições de suas origens em nome da harmonia da política nacional.
c) o desaparecimento de quaisquer limitações, tais como linguagem política ou distintas convenções de comportamento, para compor a arena política a ser compartilhada.
d) a reunificação da sociedade que se encontra fragmentada em grupos de diferentes comunidades étnicas, confissões religiosas e formas de vida, em torno da coesão de uma cultura política nacional.
e) a coexistência das diferenças, considerando a possibilidade dos discursos de autoentendimento se submeterem ao debate público, cientes de que estarão vinculados à coerção do melhor argumento.
e) a coexistência das diferenças, considerando a possibilidade dos discursos de autoentendimento se submeterem ao debate público, cientes de que estarão vinculados à coerção do melhor argumento.