Sociedade de Consumo
Aparentemente, o consumo é algo banal, até mesmo trivial. É uma atividade que fazemos todos os dias, por vezes de maneira festiva, ao organizar um encontro com os amigos, comemorar um evento importante ou para nos recompensar por uma realização particularmente importante — mas a maioria das vezes é de modo prosaico, rotineiro, sem muito planejamento antecipado nem reconsiderações.
Se reduzido à forma arquetípica do ciclo metabólico de ingestão, digestão e excreção, o consumo é uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos vivos.
Visto dessa maneira, o fenômeno do consumo tem raízes tão antigas quanto os seres vivos — e com toda certeza é parte permanente e integral de todas as formas de vida conhecidas a partir de narrativas históricas e relatos etnográficos.
No entanto, de maneira distinta do consumo, que é basicamente uma característica e uma ocupação dos seres humanos como indivíduos, o consumismo é um atributo da sociedade.
A sociedade de consumo, movida pelo consumismo, tem como base de suas alegações a promessa de satisfazer os desejos humanos em um grau que nenhuma sociedade do passado pôde alcançar, ou mesmo sonhar, mas a promessa de satisfação só permanece sedutora enquanto o desejo continua insatisfeito.
Mais importante ainda, quando o cliente não está “plenamente satisfeito” — ou seja, enquanto não se acredita que os desejos que motivaram e colocaram em movimento a busca da satisfação e estimularam experimentos consumistas tenham sido verdadeira e totalmente realizados.
É exatamente a não satisfação dos desejos e a convicção inquebrantável, a toda hora renovada e reforçada, de que cada tentativa sucessiva de satisfazê-los fracassou no todo ou em parte que constituem os verdadeiros volantes da economia voltada para o consumidor.
A sociedade de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros — e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles.
O método explícito de atingir tal efeito é depreciar e desvalorizar os produtos de consumo logo depois de terem sido promovidos no universo dos desejos dos consumidores. O que começa como um esforço para satisfazer uma necessidade deve se transformar em compulsão ou vício.
E assim ocorre, desde que o impulso para buscar soluções de problemas e alívio para dores e ansiedades nas lojas, e apenas nelas, continue sendo um aspecto do comportamento não apenas destinado, mas encorajado com avidez, a se condensar num hábito ou estratégia sem alternativa aparente.
Sem a repetida frustração dos desejos, a demanda de consumo logo se esgotaria e a economia voltada para o consumidor ficaria sem combustível.
É o excesso da soma total de promessas que neutraliza a frustração causada pelas imperfeições ou defeitos de cada uma delas e permite que a acumulação de experiências frustrantes não chegue a ponto de solapar a confiança na efetividade essencial dessa busca.
Além de ser um excesso e um desperdício econômico, o consumismo também é, por essa razão, uma economia do engano. Ele aposta na irracionalidade dos consumidores, e não em suas estimativas sóbrias e bem informadas; estimula emoções consumistas e não cultiva a razão.
É um tipo de sociedade que “interpela” seus membros — ou seja, dirige-se a eles, os saúda, apela a eles, questiona-os, mas também os interrompe e “irrompe sobre” eles — basicamente na condição de consumidores.
Ela avalia — recompensa e penaliza — seus membros segundo a prontidão e adequação da resposta deles à interpelação.
Como resultado, os lugares obtidos ou alocados no eixo da excelência/inépcia do desempenho consumista se transformam no principal fator de estratificação e no maior critério de inclusão e exclusão, assim como orientam a distribuição do apreço e do estigma sociais, e também de fatias da atenção do público.
A “sociedade de consumidores”, em outras palavras, representa o tipo de sociedade que promove, encoraja ou reforça a escolha de um estilo de vida e uma estratégia existencial consumistas, e rejeita todas as opções culturais alternativas.
Uma sociedade em que se adaptar aos preceitos da cultura de consumo e segui-los estritamente é, para todos os fins e propósitos práticos, a única escolha aprovada de maneira incondicional.
BAUMAN, Zygmunt [2007]. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2012.
Enem 2018b - 55
a) aspirações de cunho espiritual.
b) exposição cibernética crescente.
c) propósitos solidários de classes.
d) interesses de ordem socioeconômica.
e) hegemonia do discurso médico-científico.
d) interesses de ordem socioeconômica.
Enem 2018b - 59
a) exposição da vida privada.
b) recorrência de transtornos mentais.
c) reinvenção dos valores tradicionais.
d) dependência das novas tecnologias.
e) banalização de substâncias psicotrópicas.
d) dependência das novas tecnologias.
Enem 2015b - 29
a) lado efêmero e restritivo da indústria cultural.
b) baixa renovação da indústria de entretenimento.
c) influência da música americana na cultura brasileira.
d) fusão entre elementos da indústria cultural e da cultura popular.
e) declínio da forma musical em prol de outros meios de entretenimento.
a) lado efêmero e restritivo da indústria cultural.